Volks abandona negociação para reparar trabalho escravo em propriedade na Amazônia
Empresa não recusa a reconhecer sua responsabilidade sobre trabalho escravo na fazenda Vale do Rio Cristalino, na Amazônia
Após dois anos de negociação, a Volkswagen abandona definitivamente o diálogo com o MPT (Ministério Público do Trabalho) sobre a responsabilização da empresa por trabalho escravo na fazenda Vale do Rio Cristalino, propriedade da montadora alemã na Amazônia, nas décadas de 70 e 80, no decorrer da ditadura empresarial-militar.
Às 10h da última quarta-feira (29), o MPT e a Volkswagen se reuniram em São Paulo para discutir o caso. A Volkswagen negou sua responsabilidade e se recusou a discutir possíveis reparações.
Representantes do IIEP, INCRA, Brasilien-Initiative Freiburg e do MST, junto com o ex-deputado (PT) e presidente da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva”, Adriano Diogo, e da co-deputada da Bancada Feminista (PSOL), Mariana Souza, estiveram presentes para entregar uma petição organizada na Alemanha e assinada por 2.875 pessoas aos representantes da Volks.
Os representantes da Volkswagen se negaram a responder se eram representantes da empresa, se negaram a receber a petição e a discutir qualquer tipo de acordo com o Ministério Público do Trabalho.
“A luta segue e é necessário aumentar a pressão contra a Volkswagen”, defende Sebastião Neto diretor do IIEP.
Em recente entrevista para o IIEP, o padre Ricardo Rezende, da Comissão Pastoral da Terra, responsável por entregar a documentação comprobatória sobre o caso ao MPT, afirmou: “Que a Volkswagen reconheça, dê a lista das pessoas que entraram na fazenda, e essas famílias sejam localizadas e indenizadas por dano moral individual. Mas também tem o dano moral coletivo – o dano ocasionado ao país. É uma vergonha pro país. É uma humilhação pro povo brasileiro. Isso não pode, não tem o direito de fazer o que fez. Então ela tem uma responsabilidade social e tem que pagar pelo dano moral coletivo, ao povo brasileiro, alguma coisa. E alguma coisa que ajude a reparar o crime.”
Em 2015, a Volkswagen foi obrigada a pagar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) ao MPT por ver comprovada sua participação ativa na perseguição e repressão aos trabalhadores durante a ditadura empresarial-militar brasileira.
O valor desse TAC está permitindo que outras 13 empresas sejam investigadas num convênio entre Ministério Público e Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
(Fonte: IIEP - Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas)
Foto: Wolfgang Weihs/picture alliance