Entrevista: Narciso Soares faz balanço sobre a greve dos metroviários de São Paulo

Entrevista: Narciso Soares faz balanço sobre a greve dos metroviários de São Paulo

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Os metroviários de São Paulo protagonizaram uma greve importantíssima nos últimos dias 23 e 24. A categoria mostrou muita diciplina e disposição para lutar por direitos e melhores condições de trabalho. Ainda que a decisão pela greve tenha sido dividida, 100% da categoria assumiu o desafio de parar o metrô da maior cidade da América do Sul.

A mobilização ainda trouxe um novo tema para as próximas paralisações no setor de transporte: a catraca livre. Greves no metrô são frequentemente atacadas com o argumento de que prejudicam a vida da população, no entanto, quando os trabalhadores desafiaram o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a liberar a catraca garantindo acesso gratuito à população e evitando a paralisação do serviço, o poder público não aceitou. 

Confira a entrevista realizada com Narciso Soares, vice-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e inegrante da Executiva Estadual da CSP-Conlutas. O companheiro faz um balanço da greve e ainda reforça a necessidade de independência e autonomia para os trabalhadores defenderem seus direitos. 

 

CSP-Conlutas: Qual sua avaliação do papel desempenhado pelos metrovários na greve?

Narciso Soares: Eu acho que a categoria metroviária mostrou uma disposição pra luta muito grande e uma unidade impressionante. Mesmo tendo discussões sobre fazer a greve naquele momento ou não. Apesar da aprovação da greve ter sido dividida a adesão a greve foi 100%. Foi uma greve muito forte e também sempre mostrou uma preocupação muito grande em brigar por pautas pela população, por isso veio a discussão sobre a catraca livre.

 

CC: O tema da catraca livre é outra proposta de mobilização para reivindicar direitos. Como chegaram nesta ideia? 

NS: Há anos é discutido o funcionamento parcial quando se faz greve no setor do transporte. Mas há a preocupação de funcionar parcialmente um meio muito requisitado. Então pensamos, ainda quando o Altino Prazeres era o presidente do Sindicato, fazer a greve com as catracas livres pra população. Desta vez, a juíza que estava no caso do plano de contingência acatou nossa proposta.

Então, nós fizemos esse desafio à direção do Metrô. Depois de muita pressão dos metroviários e da população o Metrô disse que iria fazer. O governo também acatou. Tarcísio inclusive chegou a divulgar que era ideia dele. Mas na verdade enganaram a população e deixaram os trabalhadores parados por três horas sem atender a população. Tudo para não liberar a ctraca.

 

CC:Como a categoria reagiu à maneira que Tarcísio se portou durante a greve?

NS: Essa molecagem deixou a categoria indignada. Foi um desrespeito com a população e com o que havíamos acordado. Se abre o Metrô naquele momento sem a catraca livre ia ser o caos. A população estava esperando a catraca livre. Os metroviários teriam de conversar com a população de abrir as catracas na marra para fazer cumprir a promessa do governador, que não tem palavra. Isso mostra como Tarcísio mente para a população. Isso ocorre também em outros temas como o da privatização. Eles vendem como algo bom para o povo, mas estamos vendo o prejuízo.O transporte fica mais caro e piora a qualidade. Tudo isso pra dar dinheiro pros empresários que há anos financiam sua campanha

 

CC: Bolsonaro foi derrotado nas urnas, mas as lutas continuam sob o governo Lula. Porque é importante a indepenência e a autonomia para classe trabalhadora?

NS: A derrota de Bolsonaro nas eleições foi importante pelo o que ele significa e pelas ameaças que sempre fez à democracia, seus discursos de ódio. Mas na prática o governo Lula continua sendo um representante da burguesia. Não há o mesmo discurso de ódio, mas as políticas seguem contrárias aos trabalhadores, negros, mulheres e indígenas.

Um exemplo claro é a privatização do metrô de Belo Horizonte (MG). Bolsonaro fez o leilão no ano passado, mas para efetivar precisava da assinatura do presidente Lula. Os metroviários ficaram mais de vinte dias em greve, mas ainda assim o Lula assinou e confirmou a privatização.

Eles continuam em luta para revogar esse processo, mas seria mais simples não assinar. A luta agora é mais difícil, mas os companheiros continuam e com toda nossa solidariedade. Lula continua aplicando essas medidas também em outras áreas. A reforma trabalhista e da Previdência continuam ai, e o Haddad falando que as PPP (Parceria Público Privado) são exemplos a serem servidos.

 

CC: Aos demais metroviários e outras categorias em luta, qual aprendizado adquirido com a greve que poderia ser compartilhado?

NS: Sim, a nossa greve se juntou a outras que estão acontecendo, como a de BH, e mostrou a importância de unificar os trabalhadores, inclusive aqueles que se utilizam do transporte. Temos de unificar inclusive com outros metroviários do mundo, como os franceses que lutam contra a reforma da Previdência naquele país.

A solidariedade é fundamental pra gente questionar tudo que está aí: a riqueza dos grandes empresários, o domínio desses patrões, a privatização e a necessidade de estatizar sob o controle dos trabalhadores

Precisamos avançar nisso. A greve deu esse recado e o tema da catraca livre levantou a discussão sobre quem deve pagar o transporte. É o estado que deve assumir essa conta com o dinheiro que arrecada. Se precisar de mais recursos tem que tirar dos grandes empresários que são aqueles que se beneficiam com o transporte e não a população. A greve mostrou que a luta por isso é correta e tem o apoio do conjunto dos trabalhadores.

 

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