RCN: Comboio virtual à Ucrânia e atividades internacionais abrem reunião nacional

RCN: Comboio virtual à Ucrânia e atividades internacionais abrem reunião nacional

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Ações de apoio à Ucrânia e a luta das mulheres iranianas foram destaques

 

A primeira mesa da Reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas na manhã desta sexta-feira (2), a última de 2022.

Para abrir as discussões, a mesa internacional contou com os dirigentes Fábio Bosco e Herbert Claros, do Setorial Internacional da CSP-Conlutas, Diego Vitello, da Secretaria Executiva Nacional da Central, Sergio Garcia da LIS (Liga Internacional Socialista), e Rosália Fernandes, do Sindsaúde-RN. 

Fábio Bosco, presente nos dois comboios de ajuda à resistência operária na Ucrânia, realizados em Abril e Outubro, expôs a situação da Ucrânia que, ressaltou, ainda é muito crítica. “Queria chegar aqui e dizer para vocês que na Ucrânia nós estamos por um triz para nascer feliz, mas isso não é verdade”, introduziu.

Na avaliação do dirigente, houve avanços, mas a solidariedade e o apoio concreto são demandas e tarefas urgentes para as organizações combativas. “Desde 24 de fevereiro, a Rússia esteve em vantagem, com 30% do território ucraniano tomado e domínio de Kherson e Mariupol”. Em contrapartida, ele conta que, recuperando Kharkiv e com a retomada de Kherson, por exemplo, os ucranianos ganharam em “moral pela defesa da terra, de suas famílias e casas”. Segundo ele, na Ucrânia cerca de 900 mil pessoas se alistaram, ainda que com armamento precário.

“Do lado de lá, Putin tem armamento superior, mas não tem tropas. Uma parte significativa do exército está morta e, na tentativa de recrutamento, 1 milhão de russos fugiram do país”, em uma ação, considerada pelo dirigente, como uma “resistência passiva daqueles que não tomaram a guerra para si”.

Desconstruindo ideias stalinistas de parte da esquerda, Fabinho também reforçou que a agenda da OTAN não é a vitória do povo ucraniano, citando a declaração pública de Biden sobre “estar preparado para negociar com Putin", possivelmente concedendo parte da Ucrânia para a Rússia. Ainda destacou a defesa de Merkel pela retomada das relações comerciais com Putin e o provimento escasso de armas, “a conta gotas, para garantir que a Ucrânia não vença a guerra”.

O dirigente ainda destacou o grave ataque do governo de Vladimir Zelensky, que segue fortalecendo oligarquias e atacando a classe trabalhadora. Em meio à guerra, seu governo implementou a reforma trabalhista no país, contribuindo para mais desemprego e precarização. 

“Mais um obstáculo importante para a vitória da classe trabalhadora ucraniana é a posição do sindicalismo e da esquerda internacional que, em grande parte, trocou a defesa dos interesses da classe operária pelos interesses dos regimes assassinos. Quando Putin escolhe matar em massa um povo de frio e fome, ele é um assassino. São esses que representam os interesses da classe operária internacional? É essa esquerda neo-stalinista neo-maoista, que apoia a China que reprime manifestantes em Hong Kong, que manda para campos de concentração de Xinjiang muçulmanos e outras etnias. A esquerda que apoia o Irã, um regime que já matou 400 pessoas desde a morte de Mahsa Amini, ou que aceita que 700 pessoas sigam presas em Cuba, por participarem de protestos por melhores condições de vida, contra a escassez de energia e a inflação. Esses são os governos que representam a classe operária internacional?”, questionou o dirigente.

O dirigente ainda destacou que, em Pequim, cerca de dois mil estudantes realizaram um ato em frente a uma das universidades mais prestigiosas do país, por liberdade de expressão. “Eles cantaram a Internacional, e vocês sabem o significado do hino da Internacional, certo? Significa a irmandade da classe trabalhadora em todo mundo, e é essa irmandade que devemos seguir”. 

É preciso defender a resistência operária na Ucrânia e no mundo

Em especial sobre a Ucrânia, Fábio destacou que “a solidariedade prestada tem sido pela metade”. “Os setores que apoiam Putin estão do mesmo lado que a extrema direita internacional. São Bolsonaro, Trump, Viktor Urban, Marine Le Pen. Com a extrema direita estão os neo-stalinistas, que apoiam Putin nesta ação criminosa contra o povo ucraniano”.

Finalizou sua fala compartilhando com o plenário o orgulho do trabalho da CSP-Conlutas junto à Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas. “No Brasil fomos a única central sindical que fez algo pela Ucrânia. Pudemos estar lá, conhecemos um sindicato combativo e organizações que têm muita semelhança com a nossa Central”. 

Conforme informações do Sindicato Independente dos Mineiros de Kryvyi Rih, são 3 mil trabalhadores mineiros e, destes, 700 estão no front de batalha. “Esse sindicato se envolveu diretamente no esforço de guerra”, concluiu.

Em uma saudação enviada especialmente para a RCN, o presidente do Sindicato Independente dos Mineiros de Kryvyi Rih,o ucraniano Yuri Petrovich, agradeceu o apoio da Central, da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas e outras organizações que compuseram os dois comboios de ajuda à resistência operária no país contra a invasão russa.

“Especificamente, nossa organização enviou várias centenas de camaradas, membros de nosso sindicato, homens e mulheres, para o front. Agora estamos passando por uma situação muito difícil com cortes de energia, água e aquecimento. O inverno chegou, a temperatura está abaixo de zero. Nossas crianças e nossos idosos sofrem especialmente. Eu gostaria de pedir a você: ajude-nos da maneira que puder”, compartilhou.

O mineiro finalizou sua fala agradecendo novamente pelo apoio dado até o momento, o que para ele e para a classe de conjunto significou que “moralmente não estamos sozinhos neste mundo. E que todos nós alcançaremos a vitória sobre o imperialismo mundial”. 

Sergio Garcia, da LIS (Liga Internacional Socialista), afirmou que vivemos um contexto grave de guerras e domínio territorial por parte do imperialismo. “Nessa conjuntura a classe trabalhadora e os povos sofrem fortes e permanentes ataques por parte dos capitalistas que querem sempre que paguemos pela crise”.

“Nessas situações surgem as guerras, como essa tremenda na Ucrânia, que em nossa opinião combina uma potência que invade um país semi-colonial com um salto nas disputas interimperialistas”, expôs.

Para Sergio, o papel da esquerda deve ser o de apoiar os trabalhadores que resistem e combater os planos expansionistas da Rússia, que     “em toda a sua história, exceto nos anos iniciais da Revolução Russa, se fez opressora contra outros povos do leste europeu”.

“Alguns setores da esquerda dizem que não podemos apoiar a Ucrânia, porque recebem armas da Otan. Achamos isso um equívoco, porque não muda o fato de que o povo tem o direito de defender o seu território”.

O militante da LIS resgatou um exemplo histórico, de quando na década de 40 o Japão invadiu a China e os EUA intervieram concedendo armas à China.

“Os revolucionários da IV Internacional denunciavam os planos dos EUA mas apoiavam a luta dos chineses contra a ação imperialista do Japão”, disse.

Ele informou que existem companheiros da LIS na Ucrânia, que dirigem sindicatos no país, e que tantos outros setores operários apoiam os ucranianos em defesa de suas vidas.

Ele finalizou sua fala destacando a necessidade de “desenvolver a solidariedade de classe em todo o mundo em apoio ao povo ucraniano, que valentemente combate os invasores, e que o façamos sempre de forma independente de todos os setores imperialistas, seja do Ocidente ou da China e da Rússia”. 

“Temos essa responsabilidade de sermos solidários e internacionalistas. Precisamos ter confiança na classe operária, seja na Ucrânia ou qualquer outro lugar no mundo. Precisamos manter a confiança de que a esquerda anticapitalista pode se unir e avançar, que podemos derrotar os planos capitalistas e imperialistas em todo o mundo”, finalizou.

Ucrânia: solidariedade ativa, apoio concreto

Herbert Claros, do Setorial Internacional da CSP-Conlutas e da Secretaria Executiva Nacional da Central, resgatou a importância do 4º Encontro da Rede Sindical Internacional realizado em Abril de 2022, em Dijon, na França. O dirigente destacou que o evento contribuiu não somente para as discussões sobre os dois anos de pandemia, como também para organizar a luta em meio a atual situação econômica mundial e a guerra na Ucrânia.

“Essa atividade foi fundamental para aprovarmos resoluções e construirmos solidariedade concretamente à Ucrânia, possibilitando, desde então, o envio dos dois comboios de apoio”, afirmou.

O primeiro comboio seguiu para território ucraniano entre Abril e Maio. As organizações fizeram um 1º de Maio Internacionalista, simbólico e dentro de uma região de conflito. A campanha continuou, e o segundo comboio voltou à Ucrânia em Setembro.

“As organizações filiadas à Central contribuíram para esse comboio com o envio de donativos, alimentos, comida para bebé, itens de primeiros socorros, geradores elétricos e a diesel, walkie talkies”, listou.

A guerra não acabou e agora o povo ucraniano enfrenta um inverno rigoroso, sob intenso bombardeio, sofrendo cortes de água, energia, internet e comunicação.

A ideia é seguir com a campanha de apoio concreto e realizar mais duas ações de solidariedade.

A próxima tem previsão de ser realizada em 17 de dezembro, que devido às condições do clima, será realizada em formato virtual. O próximo comboio com envio de donativos deve ser realizado no período da primavera europeia, entre março e abril, ainda sem data definida.

Outras ações internacionais

Além do Encontro da Rede Internacional e dos comboios de apoio à Ucrânia, Herbert resgatou outras importantes mobilizações que tiveram o apoio direto da Central.

Dentre as ações, destacou a comitiva em visita ao companheiro Cesare Battisti e a campanha permanente pela liberdade do militante italiano, que obteve importantes vitórias, como a mudança do regime de prisão, por exemplo. “Durante muitos meses ele ficou preso na solitária, chegou a fazer protesto com greve de fome, e agora não está mais em prisão de segurança máxima”.

Também nos solidarizamos com a greve de mais de mil dias dos camaradas perseguidos e demitidos da agência estatal de notícias Notimex. 

Estivemos em atos e entregamos nosso posicionamento de apoio às autoridades representativas de forma a fortalecer a luta das trabalhadoras e dos trabalhadores da Sutnotimex. Foram 300 demitidos, a maioria mulheres, e seguimos em campanha internacional para pressionar o governo de López Obrador a reintegrar os trabalhadores.

Também foi citada a participação da CSP-Conlutas no Encontro do Labor Notes, nos EUA.

O evento discute a organização e atuação do sindicalismo alternativo. “Foi importante para entendermos o que ocorre no coração do capitalismo. Um processo de reorganização com participação de mulheres e do movimento negro, que a partir de suas lutas por direits estimulou mobilizações em seus locais de trabalho, fazendo surgir um movimento forte de sindicalismo alternativo”, frisou.

Também informou sobre a Greve Geral que aconteceu na Itália na sexta (2) - a primeira greve sob governo de ultradireita, com forte adesão dos setores de logística, comércio e transporte.

O levante no Irã teve um momento importante nas discussões. Foi exibido o trecho de uma entrevista com a ativista e artista iraniana Mahmooni, concedida à CSP-Conlutas, em que falou sobre a luta das mulheres iranianas e a necessidade de apoio e solidariedade internacional. 

Internacionalismo classista, combativo e independente

Por fim, a partir das intervenções, a mesa pode reforçar a necessidade de manter o apoio às resistências operárias no mundo todo com independência e combatividade.

Fabio citou que a política dos EUA não é a vitória da Ucrânia, falou sobre os drones iranianos que têm sido usados pela Rússia para destruir os sistemas de distribuição energia e gás do país em pleno inverno e expôs dessa maneira as contradições ignoradas pelo setor stalinista. “Vocês acreditam mesmo que os EUA não têm armas para cessar os ataques por drones iranianos ou o disparo de mísseis? Têm, só não estão enviando para as tropas ucranianas”.

O dirigente ainda ressaltou que qualquer política de solidariedade deve partir da vitória da classe trabalhadora ucraniana. “Se ilude quem acha que os EUA ganham com a vitória da Ucrânia. Porque se cair o Putin, quem é que vai invadir o Cazaquistão para defender as empresas americanas que exploram a classe trabalhadora naquele país? A Rússia invadiu em janeiro o Cazaquistão para oprimir um levante operário”, levantou a questão.

Já Vladimir Zelensky é outro inimigo da vitória da Ucrânia. No período da guerra, desobrigou empresas de pagar salários de quem está no front e favorece a oligarquia ucraniana aliada à União Europeia. 

Por fim, Fabio apontou que a CSP-Conlutas denuncia constantemente a prisão política de manifestantes e sindicalistas na Rússia e em Belarus, e a opressão contra mulheres e pessoas LGBTQI+ no Catar, no Irã, no Brasil e no mundo. Ainda citou Jaques Wagner (PT), cotado para ser ministro das Relações Exteriores do governo de Lula, e sua relatoria no acordo de sigilo sobre segurança nas relações Brasil-Israel.

“O objetivo desta lei de sigilo sobre tais informações é favorecer a compra de armas e tecnologias israelenses desenvolvidas para aa manutenção de um regime de apartheid contra o povo palestino”, finalizou.

As discussões serviram como norte para a organização da Central e fortalecimento de seu caráter internacionalista, em defesa da classe trabalhadora, e independente dos governos, como alternativa para uma nova realidade, socialista, justa e igualitária para os povos no mundo inteiro.

Viva a luta internacional!

 

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