Na Venezuela classe trabalhadora se levanta por direitos e fim de perseguições

Na Venezuela classe trabalhadora se levanta por direitos e fim de perseguições

  • Facebook
  • Twitter

Por: Sâmia Teixeira

Na Venezuela, mobilizações ocorrem no país desde a primeira semana de janeiro. Diversas categorias de trabalhadoras e trabalhadores expressam nas ruas a insatisfação com o governo e as péssimas condições de trabalho e de vida.

 

A CSP-Conlutas conversou com Carlos Rondón, membro do Sindicato de Grafitos de Orinoco (setor de produtos à base de carbono), que nos relatou a crítica conjuntura política e social e o clima de luta contra o governo.

 

Confira abaixo:

 

CSP-Conlutas: Parece que há uma parcela importante de venezuelanos vivendo em exílio econômico. Você poderia nos dizer algo sobre isso?

Carlos Rondón: A Venezuela, na última década, sofreu um impressionante êxodo de pessoas como resultado da profunda crise econômica que vem sofrendo. Segundo um relatório da ONU e de organizações de refugiados, o número é de mais de 7,1 milhões de venezuelanos que foram forçados a emigrar por motivos políticos e principalmente pela conjuntura econômica. Para se ter uma ideia, o PIB da Venezuela em 2013 era de aproximadamente 380 bilhões de dólares, e atualmente foi reduzido em pouco mais de 50 bilhões de dólares. Isso tem impactado enormemente na qualidade de vida dos venezuelanos, os serviços públicos estão muito deteriorados e mais de 90% da população não tem acesso à água potável, a saúde e a educação estão em más condições, o estado venezuelano e suas instituições entraram em colapso nos últimos anos do governo chavista.

 

CC: Qual é o salário e quanto custa a alimentação? É possível viver com o salário por quantos dias?

CR: O salário básico decretado pelo chavismo e em vigor neste 2023 é de 130 bolívares por mês, ao câmbio é de apenas $ 6,74 dólares por mês, é recebido por grande parte do grupo de trabalhadores e aposentados na Venezuela, podemos dizer que um trabalhador recebe apenas 22 centavos de dólar por dia para cobrir suas necessidades, somado a uma inflação que esta semana está em 345%, a segunda maior inflação do mundo atualmente, podemos dizer que a Venezuela entrou mais uma vez em uma fase hiperinflacionária que vai atingiu duramente toda a população que resta lutar dentro do país.

Ninguém pode sobreviver com esse salário, por isso o trabalhador venezuelano tem que ter um ou mais empregos, se virar para poder se alimentar ou receber ajuda de grande parte dos exilados que estão fora do país para sobreviver. Uma família precisa de 50 salários mínimos, ou seja, $350 para cobrir apenas as necessidades de alimentação e serviços.

A Venezuela tornou-se um país extremamente caro com o processo de dolarização informal, pois a produção interna é muito baixa e quase todos os alimentos são importados, o custo de vida é igual ou superior ao de um país rico, situação possível apenas para os 5% dos mais ricos da Venezuela. 

 

CC: Mas os trabalhadores parecem estar cansados. Conte-nos um pouco sobre a mobilização dos professores (ou da educação) e do Sidor.

CR: Como eu disse antes, os níveis de hiperinflação e o custo de vida que nós, venezuelanos, sofremos são insuportáveis, as condições de sobrevivência do trabalhador e de sua família foram muito reduzidas neste último ano de 2022. O bolívar desvalorizou 80% de seu valor no início do ano e isso tem motivado os sindicatos de trabalhadores a se organizarem e exigirem reajustes salariais. Os professores estão na linha de frente da luta, nos 335 municípios do país houve uma mobilização nesta última semana, eles se mostraram um dos os setores mais combativos, apesar de ter sofrido uma importante onda migratória de professores do sistema educacional. A mobilização nacional é acompanhada por professores universitários e funcionários da saúde pública. A situação geral da cidade é de total descontentamento devido ao alto custo de vida.

Em Sidor, nessa semana, os siderúrgicos do sul do país se mobilizaram e radicalizaram manifestações, bloqueando estradas ou vias de acesso à cidade de Puerto Ordaz. As condições salariais de trabalho são precárias, há humilhação da direção chavista contra mais de 15 mil trabalhadores que estão fora das fábricas e que recebem meio salário e trabalham em condições inseguras.

 

CC: Houve solidariedade com essas lutas? Como surgiu a solidariedade do povo? E a solidariedade operária?

CR: Claro que existe e continuará existindo. A solidariedade é unânime à luta dos professores e trabalhadores, estamos diante de um forte movimento de massas raramente visto antes na Venezuela, que está tendo a simpatia de toda a sociedade. A vida do povo venezuelano é extremamente difícil, isso provocou, apesar da forte despolitização que trouxe a decepção do chavismo às massas, esse fenômeno de mobilizações, que pouco a pouco vem ganhando mais força em todos os cantos do país.

 

CC: Houve algum tipo de intimidação ou repressão policial-militar?

CR: Essas lutas levaram à prisão de seis metalúrgicos pelo corpo de repressão do chavismo, abrindo processos judiciais. O chavismo busca formas de romper com a mobilização, intimidando os trabalhadores com suas organizações paramilitares e sua central sindical, tentando fazer marchas que buscam confronto entre trabalhadores.

A intimidação por parte dos empregadores para que os trabalhadores compareçam aos atos oficiais do governo não tem paralelo, as ameaças vão desde retirar benefícios como bolsas de alimentação, suspender seus salários e demiti-los das fábricas se forem contra os patrões chavistas. Tanto as organizações repressivas quanto a burocracia chavista aplicam métodos para tentar quebrar a luta de todas as formas possíveis.

 

CC: Para o dia 16 estão sendo convocadas novas mobilizações. O que se espera dessas mobilizações? Quem estará presente na sua opinião?

CR: Para este dia está sendo convocada uma mobilização nacional. Esperamos que as mobilizações caminhem para outro cenário de luta e que a cada dia as lideranças dos setores de vanguarda de professores e diversos outros de trabalhadores, enfermeiros, professores universitários se organizem muito mais. Petroleiros, metalúrgicos, servidores públicos.. Todos buscam uma conquista importante que melhore a vida dos trabalhadores e de suas famílias, mas o governo de Nicolás Maduro nega aumento salarial, alegando que o país está bloqueado e sancionado, mas o povo já chegou à conclusão de que para ele e sua classe de líderes não há bloqueio ou sanções, porque possuem carros no valor de 100 mil dólares.

 

CC: Por fim, quais são as principais reivindicações das mobilizações de 16 de janeiro?

CR: As palavras de ordem são:

- Que os salários sejam indexados às taxas de inflação;

- Que seja convocada uma greve geral no país, se não houver resposta à pauta de reivindicações;

- Pelo fim das perseguições por parte das organizações repressivas do estado chavista contra os dirigentes sindicais.

 

 

Rua Senador Feijó, 191. Praça da Sé - São Paulo/SP - CEP 01006000

Telefone: (11) 3106-8206 e 3241-5528. E-mail:  secretaria@cspconlutas.org.br

© CSP-Conlutas - Todos os direitos Reservados.

  • Facebook
  • Twitter
  • Youtube
  • Instagram
  • Flickr
  • WhatsApp