Protestos no Haiti ganham força contra possível intervenção militar

Protestos no Haiti ganham força contra possível intervenção militar

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Após o pedido por apoio internacional feito pelo premiê haitiano, os EUA e Canadá enviaram veículos blindados e aviões militares carregados de armas ao país caribenho

 

O primeiro-ministro haitiano Ariel Henry anunciou publicamente um pedido de apoio estrangeiro, diante da atual crise política, social, econômica e humanitária que acomete o povo caribenho local.

Sua justificativa para que haja intervenção internacional é a de que somente dessa maneira será possível superar a instabilidade no país. 

Mas o passado ensinou ao povo haitiano que a intervenção militar estrangeira só acarreta em mais problemas, desigualdades e violência, e multidões foram às ruas para dizer não à qualquer possibilidade de nova intervenção militar no país.

Conforme publicado pelo site de notícias do Brasil de Fato, o pedido do premiê teria por objetivo frear a crise "causada principalmente pela insegurança derivada da atuação das quadrilhas e gangues".

Violência e gangues
O ativista Fedo Bacourt, diretor da USIH (União Social de Imigrantes Haitianos) relatou, em atividade da Central realizada em fins de 2021, que a situação no Haiti havia piorado muito após o agravamento da instabilidade política no país, com o assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, em julho de 2021, na capital Porto Príncipe.

Ele relatou que as crianças não iam mais para as escolas, pois as famílias temiam que fossem sequestradas por gangues.

"Muitos me ligam todos os dias chorando, me pedindo só uma coisa: ‘moramos em Porto Príncipe, meu filho não pode ir pra escola e não saímos de casa para ir ao supermercado. Estamos passando fome'. E quem fica aqui, longe desses familiares, longe de seus filhos? Esses vivem com a angústia constante de não tê-los aqui em segurança, ao seu lado", contou. Na ocasião, a atividade tratava de travar encaminhamentos jurídicos com o fim de trazer familiares de haitianos migrantes que vivem no Brasil.

Apoio da Central

A CSP-Conlutas possui longa história de apoio aos povos em trânsito, vítimas de perseguições de governos e grupos violentos, crises políticas, econômicas, e do capitalismo ou de sua decorrente destruição climática.

Em 2010, a Central visitou o Haiti e se colocou contrária às tropas de ocupação da MINUSTAH, lideradas pelo governo brasileiro. E a USIH (União Social dos Imigrantes Haitianos) surgiu a partir do apoio institucional e político da CSP-Conlutas, e segue dando apoio aos haitianos que vivem no Brasil assim como a povos de outros países.

Confira aqui [em PDF] a Moção da Central de apoio à luta dos trabalhadores e contra a ocupação colonialista imperialista.

Essa luta é Internacional

O Haiti é o país mais pobre das Américas, devido aos processos de colonização, exploração e de intervenção estrangeira na ilha. 

Dos 11 milhões de habitantes, dois em cada três haitianos vivem com dois dólares por dia. Cerca de dois milhões de seus cidadãos são ameaçados pela fome, 35% da população precisa urgentemente de ajuda alimentar e a desnutrição crônica afeta 40 em cada 100 pessoas.

As condições no Haiti ficaram ainda mais prejudicadas após o terremoto que atingiu a ilha em agosto de 2021, mas sabemos que os desastres naturais não são em si os responsáveis pelas condições de vida da população.

Especialistas afirmam que o país, se melhor preparado, assim como países mais ricos e desenvolvidos, evitaria muitas mortes e destruição de casas e outras importantes infraestruturas.

Jonathan Katz, jornalista da Associated Press e autor do livro “O Grande Caminhão que Passou: Como o mundo chegou para salvar o Haiti e deixou para trás um desastre” relata que “grande parte dos gastos militares dos EUA logo após o desastre foi mais centrado na prevenção de protestos e para interromper a imigração em massa do que na reconstrução do país”.

Se todos os fundos gastos com tropas militares fossem canalizados para melhorar as condições de vida da população, o número de mortes por terremoto nunca ultrapassaria o saldo de 100 vítimas.

Em resumo, vindo dos autoproclamados restauradores da democracia, o que se tem visto é uma fortuna em dinheiro sendo aplicada em medidas de dominação, repressão e exploração contra o povo haitiano.

Intervenção, não!

A situação crítica a qual os haitianos estão submetidos não justifica mais uma agressão estrangeira no país. 

A CSP-Conlutas defende a soberania do povo haitiano, que historicamente sofre com as interferências e o abuso do imperialismo.

A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), que teve a participação do Brasil, entre 2004 e 2017, serviu apenas para levar a cabo a exploração dos recursos naturais do país caribenho, situação que submeteu haitianos a situação de semiescravidão.

A ocupação militar no Haiti deixou um rastro comprovado e denunciado de destruição, morte, doenças, fome, miséria e estupros, incluindo crimes de violência sexual contra mulheres e crianças pela missão da ONU. 

Mesmo passada a ocupação, o Haiti não obteve qualquer autonomia ou soberania, sendo, na prática, governado pelo chamado Core Group, formado pelos embaixadores dos Estados Unidos, França, Espanha, Brasil, Alemanha, Canadá, União Europeia, além de representantes da ONU e da OEA.

Conforme moção do Setorial Internacional da CSP-Conlutas elaborado em novembro de 2021, “o Core Group não governa o Haiti diretamente, mas seus membros o fazem por meio de seu poder diplomático, com o qual mantêm o controle de todas as decisões políticas mais importantes do país, incluindo a nova Assembleia Constituinte, quais serão os líderes do Haiti, o seu regime de exploração econômica, etc”.

Uma outra intervenção militar, apresentada com a ardilosa máscara de defesa de direitos humanos e restauração da democracia - dos ricos - somente serviria para reforçar o sistema neocolonial administrado por Henry e o imperialismo via o Core Group.

Ativistas e movimentos sociais alertam que o cenário de violência é criado e promovido nos bastidores pela oligarquia criminosa haitiana, com o apoio de Henry, o Core Group e os EUA, porque eles são os maiores interessados em qualquer processo de dominação.

O que o povo haitiano realmente precisa e merece, historicamente, é o poder de construir sua própria estrutura política e econômica, feita pelo povo e para o povo, como sempre demonstraram querer em seus processos revolucionários contra o imperialismo e o colonialismo.

Não à intervenção militar estrangeira! Todo apoio à insurreição haitiana!

 

 

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