Caso Borba Gato: julgamento de Paulo Galo tem início em São Paulo
O julgamento do motoboy Paulo Galo, liderança dos entregadores antifascistas e movimento Revolução Periférica, pelo protesto que ateou fogo na estátua do bandeirante Borba Gato, em 2021, teve início na quinta-feira (8).
A audiência de instrução com os depoimentos das testemunhas de acusação e defesa ocorreu no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo. O responsável pelo caso é o juiz Eduardo Pereira Santos Júnior. Ainda não há previsão para a sentença.
Além de Galo, Danilo de Oliveira (conhecido como Bil) e Thiago Vieira também respondem criminalmente. O MP (Ministério Público) acusa os manifestantes de incêndio, danificação de patrimônio público, associação criminosa e adulteração de veículo.
Protesto
Logo após o ato, em 24 de julho de 2021, Galo havia deixado explícito seu objetivo: levar o debate sobre as homenagens concedidas a personagens da história brasileira que atentaram contra a vida de negros e indígenas. Borba Gato é um exemplo.
Assim como ocorre em inúmeros casos ao redor do mundo, a queima da estátua foi um manifesto de contestação, com o objetivo de abrir o debate sobre o tema perante a sociedade. Ações parecidas ocorreram nos EUA, Europa e Oriente Médio, nos últimos anos.
O protesto reuniu cerca de 50 pessoas e o caso rapidamente ganhou repercussão nacional. A ação simbólica não deixou feridos e serviu de impulso a diversas iniciativas sobre o tema, como aulas públicas e debates em escolas.
Repressão
Apesar da manifestação ter ocorrido de forma pacífica e ter sido planejada para que não oferecesse perigo aos participantes, a justiça paulista chegou a prender preventivamente Galo, Bil e Thiago.
Galo e Bil ficaram duas semanas na prisão, até o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) determinar a soltura no dia 10 de agosto de 2021. Thiago já havia sido solto anteriormente. Mesmo sem ter participado do ato, a esposa de Galo, Géssica, foi presa e solta em seguida.
Campanha
Frente à arbitrariedade, uma ampla campanha pela libertação dos ativistas dois realizada por movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos e personalidades. Caracterizada como prisão política, a campanha ganhou âmbito internacional.
A CSP-Conlutas recolheu mais de 100 assinaturas de entidades internacionais pela libertação de Galo, desde representações de países da América Latina, Europa, Estados Unidos, países árabes e africanos.
Sem arrependimentos
No dia 26 de julho deste ano, em suas redes sociais, Galo explicou porque não se arrepende da iniciativa contra a estátua do bandeirante. Para ele, a ação cumpriu seu objetivo de questionamento e serve de primeiro passo na organização dos de baixo.
"Completou um ano e o julgamento se aproxima e eu continuo sem arrependimentos. Convicto de que organizar o ódio é o caminho. A luta de classes é a salvação", afirmou Galo em sua conta no Twitter.