19 mortos no Complexo do Alemão (RJ): basta de política genocida

19 mortos no Complexo do Alemão (RJ): basta de política genocida

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Política aplicada por governos além de falida e desastrosa só serve para matar e criminalizar povo negro e pobre das favelas cariocas

Nas redes sociais, imagens de vídeos e fotos mostram o desespero e o terror dos moradores do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), que, nesta quinta-feira (21), foram alvo de mais uma operação da Policia Militar e da Polícia Civil. Aos gritos e choros, moradores corriam carregando corpos e feridos no que pareciam ser lençóis para tentar socorrer as vítimas.

“O beco aqui na frente de casa está cheio de sangue e os moradores gritando que tem gente baleada”, relatou um morador que, desde 5h30 da quinta-feira, enfrentava um cenário de guerra em frente à sua própria residência, segundo o site Voz das Comunidades, que traz notícias sobre as favelas no RJ.

Em vídeos, moradores registraram policiais forçando portas para invadir as casas e as moradias reviradas após a saída dos agentes.

Escolas, postos de saúde e comércios ficaram fechados e trabalhadores não conseguiram ir trabalhar por conta dos tiroteios, situação que já se tornou “comum” com as operações policiais na cidade carioca.

4ª maior chacina da história

Oficialmente, a PM informou que são 19 mortos, sendo uma moradora tendo sido atingida por tiros na manhã desta sext-feira (22). Há relatos, como sempre, de que o número de vítimas é maior.

A operação que durou 12 horas é a terceira chacina realizada em pouco mais de um ano no governo de Cláudio Castro (PL), figurando entre as cinco maiores chacinas já realizadas pela polícia na história do RJ.

Anteriormente, ocorreu a chacina no Jacarezinho, em maio de 2021, quando 28 pessoas morreram; a operação na Vila Cruzeiro, em maio deste ano, que deixou 25 mortos; e, em 2007, também no Complexo do Alemão, com 19 mortos.

Dos 19 mortos, até a manhã desta sexta-feira, a polícia informou que oito tinham algum tipo de passagem criminal. Na ação de ontem morreram um policial e outra mulher que passava de carro e foi alvejada por tiros da polícia, segundo testemunhas. 

Em nota, a Defensoria Pública do Rio afirmou haver "indícios de situações de grave violação de direitos" durante a operação no Complexo do Alemão, "com possibilidade desta ser uma das operações com maior índice de mortos no Rio de Janeiro".

A Anistia Internacional Brasil também se manifestou nas redes. “O Ministério Público tem o dever constitucional de fazer o controle externo da polícia. É inaceitável que ações mal planejadas que violam os direitos humanos de tantas pessoas continuem ocorrendo no RJ sem que nada seja feito pelos órgãos de competência”.

Política desastrosa e falida

O governador Cláudio Castro e as polícias alegam que tais operações se tratam de “combate à violência”, “que os mortos são criminosos”, o que obviamente não é justificativa para chacinas e execuções, além de relatos revelarem casos de pessoas que não ofereceram qualquer resistência e foram executadas. Decisão do STF determinou que durante a pandemia somente operações policiais excepcionais poderiam ser realizadas nas favelas, o que não foi respeitado pela policia no RJ.

Com a suposta justificativa de combater traficantes, o governo e a PM tratam comunidades inteiras com brutal violência. E, como sempre, o principal alvo é o povo negro. No fogo cruzado entre a polícia e o narcotráfico, trabalhadores e trabalhadoras têm suas vidas atacadas. Pesquisas revelam que as polícias civil e militar são as principais causadoras de mortes violentas no Rio de Janeiro.

Segundo o Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de pessoas mortas por policiais no estado do RJ aumentou 8,9% em 2021 na comparação com 2020. Foram 1.356 mortes no ano passado - o maior número em todo o Brasil.

Em nota, a Faferj (Federação de Associações das Favelas do Rio de Janeiro) se pronunciou sobre a operação.

“Mais uma manhã de terror. Cláudio Castro, o governador das chacinas, autorizou mais uma operação eleitoreira em favela. Na guerra da Ucrânia e em vários outros conflitos é proibido utilizar helicóptero como plataforma de tiro em área civil, é crime internacional. Mas nas favelas isso acontece cotidianamente, inclusive hoje no Alemão, com o Águia (helicóptero blindado) aterrorizando moradores. Essa lógica de guerra é um enxuga gelo que não resolve o problema da violência, ao contrário, apenas piora. Nós, da FAFERJ, repudiamos essa operação eleitoreira autorizada pelo governador das chacinas, Cláudio Castro. Também externamos nossa solidariedade aos moradores do Complexo do Alemão. As favelas pedem paz e também direitos iguais!”

A CSP-Conlutas defende a apuração imediata dos crimes e a reparação do Estado às famílias de vítimas da violência policial. Da mesma forma é necessário dar um basta no modelo de segurança pública que penaliza trabalhadores negros e pobres, em nome de uma falsa guerra às drogas em que a grande derrotada é a população.

A desmilitarização da PM, o fim do encarceramento em massa e da falsa política de guerra às drogas são medidas urgentes para enfrentar a violência policial, mas acima, de tudo, a luta contra o racismo deve ser uma luta de raça e classe contra esse sistema capitalista baseado na opressão e na exploração.

 

Com informações: Voz das Comunidades. Foto: Sema Souza/Voz das Comunidades

 

 

 

 

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