Justiça por Bruno e Dom! Fora o presidente da Funai! Servidores realizam greve nesta quinta (23)

Justiça por Bruno e Dom! Fora o presidente da Funai! Servidores realizam greve nesta quinta (23)

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Os funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio) anunciaram um dia de greve na próxima quinta-feira (23). A mobilização cobrará justiça pelas mortes do indigenista e servidor licenciado Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips, bem como a saída do presidente da Funai Marcelo Xavier. Deverão ocorrer manifestações em todos os estados mais o Distrito Federal.

Nenhuma gota de sangue a mais

“Manifestamos nossa profunda tristeza e indignação pelo assassinato bárbaro do nosso colega Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips e exigiremos a devida identificação e responsabilização de todos os culpados”, afirmou em nota a INA (Indigenistas Associados), associação dos servidores da Funai. A saída imediata do Presidente da Funai, Marcelo Xavier, é outra reivindicação dos servidores que denunciam que a direção do órgão vem promovendo uma "gestão anti-indígena e anti-indigenista na instituição".

A associação destaca que segue em mobilização permanente "para que TODOS os culpados sejam devidamente identificados e responsabilizados por esse crime bárbaro" e que "lutam para que as investigações cheguem até a ampla cadeia de crime organizado instalada no Vale do Javari".

Os servidores da Funai afirmam que o assassinato de Bruno e Dom tem como pano de fundo o brutal desmonte da Funai promovido pelo governo de Bolsonaro e Mourão e defendem que é preciso dar um basta à política anti-indígena do atual governo, aplicada por Marcelo Xavier e uma equipe de militares e ruralistas que passaram a controlar o órgão (confira aqui o dossiê Um retrato da Funai sob o governo Bolsonaro).

"Precisamos reunir forças para estruturar mínimas condições de trabalho e segurança para a execução de nossa missão institucional de promover e proteger os direitos dos Povos Indígenas". "Queremos uma Funai indigenistas e para os povos indígenas, já! Demarcação das terras indígenas! Não ao Marco Temporal! Queremos ser recebidos pelo Ministro da Justiça para apresentar nossas reivindicações! Nenhuma punição aos grevistas!", exigem.

 


Vigília em Barra do Garças (MT). Foto: INA

Investigações

Após 10 dias desaparecidos, desde 5 de junho, a Polícia Federal apresentou na última quarta-feira (15) os irmãos Amarildo Oliveira da Costa, o Pelado, e Oseney da Costa de Oliveira, o Do Santos, como os executores do crime.

Na sexta-feira (17), Jefferson da Silva Limia, conhecido como Pelado da Dinha, investigado como terceiro suspeito, se entregou na delegacia e foi preso. Segundo a PF, Bruno foi morto por três tiros que atingiram a cabeça e o tórax. Dom teria sido baleado uma vez no tórax.

Partes dos restos mortais de Bruno e Dom já foram encontrados, bem como a embarcação que foi utilizada por ambos, afundada a 20 metros de profundidade em um rio na região.

A PF informou que as investigações continuam e há indicativo do envolvimento de mais pessoas no crime. Contudo, declarou que os executores teriam agido sozinhos, o que foi refutado pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

Em nota, a Univaja declarou que a PF "desconsidera informações qualificadas" fornecidas pelo grupo desde o segundo semestre de 2021, que apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando em invasões constantes à Terra Indígena do Vale do Javari, do qual Pelado e Do Santos fazem parte. A região é a segunda maior área indígena do Brasil.

Bruno se tornou um dos alvos centrais desse grupo, assim como outros integrantes da Univaja que receberam ameaças de morte, inclusive, através de bilhetes anônimos.

Responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato da Funai até outubro de 2019, Bruno foi exonerado pelo governo Bolsonaro, sem qualquer justificativa, depois de coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da terra indígena Yanomami, em Roraima.

Contudo, o servidor pediu licenciamento sem remuneração e seguiu na luta em defesa dos povos indígenas, passando a prestar consultoria à Univaja, sobre com defender a Terra Indígena contra a intrusão de garimpeiros, traficantes e pescadores ilegais.


Vigilia em Belém (PA) no último final de semana pede justiça por Bruno e Dom. Foto: Idade Midia 

 

Quantas vidas mais? Basta!

Raquel Tremembé, da Executiva Nacional da CSP-Conlutas e integrante da Anmiga (Associação de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade), ressalta que a execução de Bruno e Dom não são casos isolados. 

"A realidade é que outros servidores, ativistas e indígenas também tiveram suas vidas interrompidas por lutarem em defesa de outras vidas. Mas o fato é que essa é uma realidade invisibilizada", afirmou. "Com a morte de Dom houve uma grande pressão de fora, internacional, que impediu que isso ocorresse dessa vez. Mas o fato é que essa situação de violência e vulnerabilidade, de extremo perigo, acontece todos os dias no país. É uma tragédia anunciada, pois houve várias denúncias e outros crimes", completou.

Raquel denuncia ainda a política de desmonte e sucateamento de órgãos como a Funai, o Ibama, o Incra, entre outros, desde governos anteriores e que sob Bolsonaro se aprofundou ainda mais, com um declarado estímulo à violência e ataques aos povos indígenas. "A própria coletiva dada pelo governo sobre a morte de Bruno e Dom, sem a presença de indígenas, os guardiões e protetores das florestas e que sofrem tamanha violência, é uma demonstração da invisibilização dessa situação", disse.

"A morte de Bruno e Dom escancara essa situação de violência que é vivenciada por mais de 300 povos indigenas e por aqueles que lutam pelas causas sociais neste país. Até quando permitiremos isso? As pessoas precisam conhecer e entender essa realidade e ataques como o Marco Temporal, para derrotarmos não só esse governo, mas lutar para acabar com essa situação que atinge todos nós", concluiu.

 

Ato em São Paulo no sábado (18), com presenças de trabalhadores da Funai. Foto: Sindsef-SP 

 

 

 

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