Estudo da CPT denuncia:  conflitos no campo dispararam sob comando de Bolsonaro

Estudo da CPT denuncia: conflitos no campo dispararam sob comando de Bolsonaro

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A política sistemática de destruição do meio-ambiente e o discurso de ódio às minorias que marcam o governo Bolsonaro podem ter levado a uma explosão de casos de conflitos no campo, nos últimos três anos. Segundo estudo realizado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) foram quase 6 mil episódios de confronto e violência.

Lançado nesta segunda-feira (18), o relatório Conflitos no Campo 2021 aponta que mesmo sem finalizar seu mandato, Jair Bolsonaro já detém o maior número de ocorrências. Com 5.725, desde 2019, ele supera todas as administrações anteriores, a partir da 1985, ano da redemocratização do país.

Somente no ano passado, foram 1.242 conflitos por terra. Nesta categoria, constam itens como reintegrações, ocupações e assassinatos em decorrência deste tipo de disputa. Já os conflitos trabalhistas somaram 169 ocorrências. Todas sobre trabalho escravo. Os conflitos por água foram 304.

As mortes em decorrência deste cenário aumentaram. Em 2020, foram 14 assassinatos registrados em conflitos por terra. Em 2021, 34 pessoas foram mortas pelo mesmo motivo. Este é o quinto maior índice em 10 anos, ficando atrás apenas de 2017 e 2016 (governo Temer), com 70 e 61 mortes, respectivamente, e 2014 e 2015 (governo Dilma), com 49 e 37 mortes.

O número de pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, nos casos e a área de abrangência também são surpreendentes. São quase 900 mil os impactados pelos conflitos, em 712 mil quilômetros quadrados. Tal área é equivalente a duas vezes o tamanho da Alemanha, ou três vezes o estado de São Paulo.

Agredidos e agressores

Os povos indígenas são as principais vítimas somando 26% das ocorrências. Na seqüência, estão quilombolas (17%),  posseiros (17%), sem-terra (14%), assentados (8%) e outros. Já a lista de agressores é liderada por fazendeiros (21%), empresários (20%) e governos (17%). Fecham a lista: grileiros (13%), madeireiros (6%) e garimpeiros (5%).

O estado do Pará, na região Norte, é o que registra o maior número de conflitos por terra: são 156 ocorrências ao longo do ano passado. Já o estado da Bahia, região Nordeste, lidera na concentração de conflitos por água com 43 casos. Deste número, 39 ocorreram na bacia do Rio São Francisco e, em sua maioria, foram causados pela mineração.

O que explica a explosão da violência?

Não é de hoje que o governo Bolsonaro destaca-se por protagonizar tragédias no campo. O aumento recorde das queimadas no Pantanal e no Amazonas e a flexibilização das regras para o garimpo foram simbolizadas pela frase “vamos passar a boiada”, do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales.

Paralelamente, o que se viu nos últimos três anos também foi a completa estagnação do processo da Reforma Agrária, o que acentuou as desigualdades nos rincões do país. Soma-se a isso, o desmonte de órgãos fiscalizadores importantes como a Funai e o Ibama, além dos ataques ao trabalho do Inpe.

Tais fatores foram endossados pelo discurso insistente de Bolsonaro contrário às populações mais carentes e desasistidas. Este clima de “pode tudo”, abriu caminho para a atuação criminosa no campo, já marcado por uma grande desigualdade social e violência, desde governos anteriores.

“O próprio governo incentiva, através da fala, o ódio às comunidades e como política para o agronegócio, e também a desregulamentação do uso das armas, com a facilitação de decretos e projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional, que facilitam a atuação das milícias por esse processo”, afirmou Isolete Wichinieski em entrevista à imprensa.

 

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