Claudia Santiago: desafios da comunicação sindical com novas mídias em alta

Claudia Santiago: desafios da comunicação sindical com novas mídias em alta

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A comunicação dos trabalhadores apresenta novos desafios com os rápidos avanços da comunicação digital sem deixar de lado desafios anteriores

Coordenadora do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), a jornalista Claudia Santiago há muito aponta caminhos para a comunicação sindical, concomitantemente contribui na construção da comunicação alternativa no país, do campo democrático-popular.

Claudia expõe o que pensa sobre comunicação sindical e mundo do trabalho e defende abordagens mais amplas que envolvam o cotidiano dos trabalhadores/trabalhadoras e suas famílias como sexualidade, cultura, esporte e outros temas.  

As diferentes formas de utilização das plataformas de comunicação estão sob seu olhar atento, que neste período de pandemia demandou a intensificação de estudos e necessidade de compreensão do desafio que apresentam as novas mídias, o advento das fake news e de seus problemas, e outros desdobramentos para a comunicação dos trabalhadores e da esquerda de uma forma geral.

Confira:

CSP-Conlutas - No período mais brutal da pandemia os sindicatos e movimentos populares enfrentaram mudanças na comunicação, de que forma essas mudanças repercutiram para essas entidades e movimentos?

Claudia Santiago - Com a pandemia, os sindicatos se voltaram para novas formas de comunicação através da internet e acho que fizeram isso muito bem. Não estou generalizando. Mas muitos sindicatos fazem coisas muito boas nos seus sites, com transmissões conjuntas ao vivo, coberturas conjuntas, entrevistas, podcasts, cursos. Mas ainda há muita falta de planejamento.

Temos uma nova realidade que a gente ainda está aprendendo e, conforme vamos aprendendo, vamos mudando. O problema é que quando a gente aprende essa técnica, já não serve mais. Já é uma outra técnica. A tecnologia, criada pelos seres humanos, está nos dando um banho. Estamos correndo atrás dela. 

A quantidade de atividades pelo computador de que participei com sindicatos no Brasil inteiro durante a pandemia, acho que pode ser um metro para pensarmos o quanto a comunicação sindical atuou e está atuando nas redes sociais, mas ainda precisa dedicar mais tempo a isso.

CSP-Conlutas – E o que não mudou?

Claudia Santiago - Sempre insisto que a comunicação sindical não tem que falar só com o trabalhador da respectiva categoria e apenas dos assuntos do mundo do trabalho. Tem que falar com o trabalhador, com a sua família, e com os assuntos em geral que interessam à classe.

Por exemplo, um jornal de ferroviários pode tratar da educação pública. Quem vai para a escola pública não são os filhos e filhas da classe trabalhadora? Então, por que o jornal de ferroviários não pode tratar de educação e saúde? E um sindicato da saúde não vai falar dos transportes, da nossa dependência dos ônibus, do pouco investimento nos metrôs? Um jornal do sindicato pode abordar sexualidade, cultura. É a vida cotidiana das pessoas. Podemos ser porta vozes das angústias antissistêmicas do povo. Por que deixar isso só para as igrejas? 

CSP-Conlutas – Em tempos de comunicação digital, nossos impressos vão sobreviver?  

Cláudia Santiago – Aqui na Rocinha, no Rio de Janeiro, tem o jornal Fala Roça. A Micheli Silva, uma das organizadoras do jornal, me disse um dia: “A gente tem que entregar o jornal de mão em mão, porque quando a gente entrega o jornal é que se sabe se as pessoas estão gostando ou não. E a gente sabe o que elas querem que entre no jornal”. Esse contato é importante.

O Jornal do sindicato tem que ser distribuído por diretor, por diretora e por aqueles que giram em torno do sindicato. Se for distribuído assim, tem que continuar. Agora, se for para terceirizar, não sei. A partir do momento em que se começa a terceirizar, daqui a pouco está terceirizando gente para fazer greve. 

Pode até ter uma equipe que distribua profissionalmente, mas ela é complementar à ação dos dirigentes sindicais. 

Mas independente dos meios, continuamos dizendo que a comunicação sindical precisa ser feita por um tripé que envolve a direção do sindicato, a equipe de comunicação, os delegados sindicais ou representantes de base da categoria, ou seja, a própria base. Isto é muito importante. 

CSP-Conlutas – Como a esquerda está conseguindo atuar nos meios de comunicação digital, diante desses avanços incontáveis e ágeis com que este universo vem se modificando?

Cláudia Santiago - Acho que a esquerda atua dentro das suas possibilidades, principalmente com este advento das redes sociais. Nós não somos a direita, assim não podemos utilizar os mesmos métodos que eles utilizam, como as fake news, robôs. Não vamos agir como eles. Não condiz com nossos princípios. Não vamos ter robôs e plantar notícias falsas. Nossa forma de agir na internet é diametralmente oposta à forma de agir da direita e hoje da extrema direita. Eles se aproveitam do potencial das redes para jogar sujo. Não vamos jogar sujo. Também não temos os mesmos recursos do Elon Musk para comprar o Twitter, por exemplo. Ou seja, já partimos da desvantagem de que são eles que controlam a comunicação digital financeiramente.

Além disso, a gente faz as coisas muito direitinho e isso dá muito trabalho. Tem que procurar a informação, tem que verificar se está correta. Nossa atuação na internet é muito boa, mas limitada por esse fator econômico. Cada vez mais necessitamos de grupos de esquerda pensando e produzindo para a internet e produzindo coisas que todos possamos usar. Essa campanha do “Bolsocaro” foi fantástica. E foi pra rua e viralizou na internet. É possível fazer coisas criativas e viralizar nas redes.

Sabemos que a maioria das pessoas no Brasil acessa informações por redes sociais pela internet. Então temos que criar produtos que sejam agradáveis para essas pessoas. A gente tem que começar a fazer novelinha. Novelinhas assim de 12 minutos. Novelas bonitas. A gente tem uma novela radiofônica sobre Rosa Luxemburgo. 

Eu apostaria na articulação das centrais sindicais criando grupos especializados no assunto, fortalecendo e distribuindo para os seus sindicatos. Nós temos capacidade. Sigo pelo Instagram jovens com milhares ou milhões de seguidores, que estão do nosso lado. Precisamos nos articular com essas pessoas, os artistas, os educadores, os formadores de opinião, os publicitários e, obviamente, os jornalistas. E fazermos campanhas unitárias. 

Lançar um produto e fazer esse produto viralizar no Brasil inteiro. Chegar, talvez, a uma agência de comunicação das centrais sindicais. Aí já é um sonho, quase delírio. Mas aposto na unidade da esquerda e vou continuar apostando nessa unidade para enfrentarmos a máquina de guerra que é a Internet e para ouvirmos a nossa classe e a convidamos para participar desta luta com a gente.

CSP-Conlutas - Esses temas, democratização da comunicação, comunicação popular e tantos outros debates serão abordados no 28º Curso Anual de Comunicação do NPC que acontecerá de 16 a 19 de novembro. Depois de dois anos de pandemia, realizando de forma virtual, qual a expectativa para este presencial?

Cláudia Santiago – Pois é, depois de 2 anos sendo realizado de forma virtual, enfim foi chegado o momento do reencontro. O tema do 28º Curso Anual do NPC será "Comunicação, política e sindicatos no Brasil no século XXI".  De acordo com o tema, queremos retomar esse debate da relação da comunicação, política e sindicatos sob a luz do que estamos vivendo neste momento, as lições que tiramos no período recente da política e como foi feita a comunicação no país.

Vai ser muito bom. Vamos começar com uma conferência sobre Internet seguida por um debate sobre a arte nas lutas populares. Vai ser no Armazém da Utopia, no cais do porto, no Rio. Os outros dias vão ser no sindicato dos professores, na Cinelândia. Vamos estudar muito o conservadorismo, a direita e como ela se articula no mundo. Vamos debater o papel da comunicação no resultado das eleições de outubro. Vamos conversar sobre a comunicação popular e a disputa com o capital pelas cidades. E, obviamente, vamos conversar muito sobre a comunicação sindical e o mundo do trabalho. Esse ano teremos uma novidade. Haverá uma aula externa sobre a herança cultural africana no Rio de Janeiro. Professores de História vão nos guiar pela região. E estamos trabalhando para que uma das aulas seja em uma galeria onde tem cinco livrarias no Rio de Janeiro. Com esses giros pela cidade queremos dizer que temos direito à cidade, o que implica moradia. Que temos direito aos livros e que precisamos estudar porque como disse o comunista italiano Antonio Gramsci, temos de nos instruir porque para enfrentar as serpentes do fascismo vamos precisar de toda a nossa inteligência. 

É possível obter mais informações pelo whatsApp (21) 99628-3667 ou pelo e-mail npiratininga@piratininga.org.br.

 

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