RCN de 20 a 22/2022: Repúdio a nova Caderneta para Gestantes lançada pelo Ministério da Saúd
O Ministério da Saúde lançou sua sexta edição da Caderneta da Gestante, que serão distribuídos mais de três milhões de exemplares pelo SUS. Todos com o preocupante estímulo a uma prática violenta e ultrapassada, que a OMS (Organização Mundial de Saúde) reconheceu, em 2018, que não há comprovação científica que apóie a prática da episiotomia - corte feito na vagina durante o parto para facilitar o trabalho do médico.
Muitas mulheres, ao passarem por essa prática relatam a dificuldade em retomar sua vida sexual e terem tido processos inflamatórios. É uma mutilação genital, conforme pontua Marsden Wagner, ex diretor da área de Saúde da Mulher da OMS. Sem dizer ainda que não é informada ou questionada a parturiente sobre isso. Portanto não facilita nada para nós mulheres e não respeita nosso direito à decisão sobre nossos corpos.
O documento ainda promove uma informação duvidosa ao ressaltar a amamentação exclusiva como método para prevenir uma nova gravidez nos primeiros seis meses após o parto; apesar de complementar, está proteção não é plena. Sabemos que é necessário o uso de outros métodos contraceptivos.
Ainda segundo a OMS, a manobra de Kristeller, que consiste em fortes empurrões e apertos na barriga da gestante feitos com as mãos, braços e cotovelos durante o parto, isso quando o profissional não sobe na barriga da mulher, é uma técnica com grande potencial de danos à saúde da mãe e do bebê. É reconhecida como uma forma de violência obstétrica.
Desde 2019, os profissionais de enfermagem são proibidos de realizá-la. O próprio Ministério da Saúde, em documento de 2017, colocou em suas Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal que essa manobra não deve ser realizada.
A ginecologista e obstetra Melânia Amorim, pós-doutorado em Saúde Reprodutiva pela OMS, pontua que já recebeu muitas vítimas dessa manobra, inclusive com ruptura uterina, de vísceras (fígado, baço), luxação renal, hemorragia e morte.
Observamos que o Ministério da Saúde de Bolsonaro e o CFM (Conselho Federal de Medicina) ridicularizam há anos o conceito de violência obstétrica e contribuem para sua perpetuação, dizendo que ofendem a dignidade dos médicos.
A Rami (Rede de Assistência Materna e Infantil), ao contrário da Rede Cegonha, retirou o protagonismo das gestantes no processo da gestação, parto e puerpério, excluindo as profissionais de enfermagem, e direciona o protagonismo exclusivo aos médicos obstetras.
Ao colocar procedimentos na caderneta que são considerados pela OMS como ineficazes e danosos a integridade física das mulheres e bebês, legítima o uso destes procedimentos o que é inaceitável.
Basta de violência obstétrica já.
Defendemos a ciência e as técnicas comprovadas.
Todo nosso repúdio a violência contra as mulheres, crianças e adolescentes perpetuadas nessa Caderneta a Gestantes e ao desmantelo da Rede Cegonha (a mais bem sucedida política pública de assistência ao pré parto, parto e pós parto do Brasil) é um grande retrocesso a saúde das mulheres e crianças no Brasil.