Por moradia: A auto-organização nos territórios e a luta pelo direito básico de existir

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A luta por moradia, contra as mortes de negros das periferias, por saúde e educação nos bairros. Essas mobilizações permeiam os territórios ocupados pelo movimento de moradia Luta Popular, que provoca os “de cima” ao reivindicar o direito de existir e resistir, em meio a um projeto de governo que faz o pobre invisível, ao negar a essa parcela da sociedade o mínimo.

Fazer barulho, pressão, mobilizar e ocupar territórios são algumas das muitas frentes de atuação do Luta Popular, que organiza famílias em pelo menos oito estados, e que sonham com um terreno, mas, não apenas, querem um novo modelo de estado e de mundo, em que as pessoas possam viver com dignidade.

O movimento realizou uma Plenária Nacional, durante o 4° Congresso da CSP-Conlutas, oportunidade única que reuniu mais de 100 pessoas que constroem essa importante ferramenta de mobilização dos de baixo.

“Brasil já nasce como latifúndio”

“O nosso problema não é falta de coragem é a burguesia. Construímos Palmares no período colonial. Tomamos o poder no Pará, com a Cabanada. Tudo é luta por território”, pontuou o membro do Quilombo Urbano Hertz Dias.

 

Hertz salientou a importância do Luta Popular em um “Brasil que já nasce como latifúndio” para benefício dos colonizadores.

 

É importante, em sua avaliação, conhecer a história e disputar a consciência e construir a unidade: “hoje qualquer luta separada tá fadada a ser derrotada”.

 

Ocupar é questionar o modelo de sociedade imposto

Cada experiência dentro das ocupações organizadas pelo Luta Popular revela que o projeto de auto-organização do movimento está ligado não apenas a ocupar, mas a questionar e modificar o modelo de sociedade imposto.

 

“Na Ocupação Mangabeira, em Sergipe, assumimos a coordenação e unificarmos as ocupações, que antes eram divididas. Fizemos várias ações em Câmara de Vereadores, manifestações, e hoje eu estou aqui, mas as famílias já estão com suas casas garantidas”, salientou Paulo Bispo, que constrói o movimento em Aracaju (SE).

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~As ocupações que são feitas pelo país retomam locais considerados valorizados pela especulação imobiliária, como em São José dos Campos (SP).

Mariano Pereira da Ocupação Jd. União reafirma seu direito de morar.  “Na constituição está escrito, todo brasileiro tem o direito à moradia. Temos que ocupar a terra é nossa”.

Quem ocupa convive com o medo de morrer

Afrontar esse sistema coordenado pelos grandes proprietários de terra faz com que muitas lideranças sejam perseguidas.

Domingos de Sousa, que compõe o Fórum de Redes de Cidadania no Estado, no Maranhão conta sobre esta constante ameaça. “Estamos sendo perseguidos pela polícia do estado, e existe muita repressão. Principalmente na região da baixada maranhense, com extrativistas oprimidos pelos latifundiários”, relata.

A iminência do despejo também é preocupação constante e abordada por Elisângela da Silva, do Quilombo Coração Valente, em São José dos Campos, e que está ameaçado com o pedido de reintegração de posse, que pode acontecer a qualquer momento.

Se o território é um importante campo de resistência é nele também que muitos trabalhadores se organizam. “Quem trabalha em fábrica e obra também está no território”, aponta  Silvio de Oliveira, da Comunidade Lamarca, no Pará.

Misturar e convergir as lutas

Já em Manaus, a luta por moradia acolhe a todos, em ocupações que moram imigrantes, indígenas, e as lutas se misturam, aponta Anailce Souza, que organiza o movimento na região.

A unidade com outras categorias em suas mobilizações também é marca do Luta Popular. “Somos trabalhadores e estamos na luta por moradia, mas também apoiamos greves e outros movimentos”, explica Claudio Roberto de Maringá (PR).

Francisco Targino e Edson, MRP, em Brasília, reforçam que toda essa batalha deve ser em prol de derrotar um  sistema maior, o  capitalismo.

Outras violências

Nas ocupações, muitas delas, localizadas em bairros periféricos, a violência de não ter onde morar, e por isso ocupar, é acompanhada pela violência policial, que mata indiscriminadamente jovens negros.

Mães, como Arlete Martins, de uma ocupação organizada pelo Luta Popular em Manaus,  chora a dor de não poder ser tido o direito de enterrar o seu filho morto pela polícia.

Alex deixou um neto para Arlete, mãe, que não vai descansar enquanto não encontrar o corpo de seu filho. “Eles tem voz, enquanto eu sobreviver a justiça tem que ser feita”.

Denis Oliveira, da população em situação de rua, em Goiás, após a fala emocionada de Arlete, se reconheceu em sua história e dividiu sua dor. “A gente tá na rua e somos invisíveis. Essa mãe me deu uma rasteira, eu me coloquei no lugar dela porque eu perdi irmãos de maneira parecida. Eu vi minha mãe sofrendo e chorando”, disse emocionado.

Avana, um dos membros do Luta Popular, e que acompanha e advoga sobre  o caso de Arlete e outras mães, que também tiveram seus filhos assassinados pela polícia, falou com choro na garganta, sobre essa batalha. “Nossa classe não tem moradia, é discriminada, presa, morta”, pontua.

O integrante do movimento destacou que apesar de nas ocupações a vida sempre ter sido difícil, os desafios são maiores com esse governo de ultradireita, que apenas em São Paulo, com previsão de pelo menos 300 mil despejos.

Nana Jesus, lembra que a luta não é fácil, e há quem chame os que ocupam de vagabundos. “A ocupação dos Queixadas, passamos sufoco, chuva, frio, mas a gente resiste”, alerta.

Nana elogiou o Luta Popular, que em sua avaliação, apesar de todos os desafios, “é o único que trata todos que ocupam de forma igual”, além de fazer debates internos sobre de combate ao machismo e racismo dentro das ocupações.

Não daremos sossego para o governo

Antônio Francisco Ocupação dos Queixadas reafirmou que ter medo ou fugir não são opções para quem é pobre.  “Não temos medo do Bolsonaro, temos medo de passar fome na periferia”, aponta.

Se muitos estão saindo no país para fugir desse desgoverno, o Luta Popular faz o contrário, ocupa mais e não dá sossego. “Nos organizarmos com base em luta direta. Tem gente que saiu do país porque Bolsonaro assumiu, nós, ficamos e ainda ocupamos outras dezenas de terrenos como a  Ocupação dos Queixadas, em São Paulo”, defende Avana.

 

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